Ciência da Informação e o pensamento freiriano: aproximações por meio dos projetos dos cursos de graduação no cenário brasileiro


Information science and freirian thought: approaches through undergraduate course projects in the brazilian context


Ciencia de la Información y el pensamiento freiriano: acercamientos a través de los proyectos de los programas de pregrado en el contexto brasileño


João Paulo Borges da Silveira

Universidade Federal do Rio Grande (FURG), Brasil

joao-pbs@hotmail.com ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1144-784X


Submetido em: 15/04/2023 Aceito em: 21/10/2023 Publicado em: 11/12/2023


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Como citar este artigo:


SILVEIRA, João Paulo Borges da Silveira. Ciência da Informação e o pensamento freiriano: aproximações por meio dos projetos dos cursos de graduação no cenário brasileiro. REBECIN, São Paulo, v. 10, dossiê temático, p. 01-33, 2023. DOI: 10.24208/rebecin.v10.366

RESUMO


Paulo Freire é um dos educadores mais citados no mundo, tendo atuado em diversos países e com suas obras traduzidas para mais de vinte idiomas. Para o autor, a Educação, enquanto ato político, deve ser libertadora, humanizada e que rompa as barreiras entre oprimidos e opressores. Neste sentido, o presente trabalho tem por objetivo analisar os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) de graduação da área da Informação (Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação e Museologia), no Brasil, identificando possíveis aproximações com o pensamento freiriano. O estudo se alicerçou nos projetos dos cursos de graduação ativos e em execução (nem todos os cursos autorizados estão em funcionamento), com relação obtida por meio do portal do e-MEC. A partir desses dados procedeu-se levantamento no site de cada instituição, com vistas a obter documentos. Na sequência, realizou-se a leitura e a análise dos projetos, ementas e bibliografias, verificando a presença (ou não) do autor e as possíveis contribuições de seu estudo à constituição de novos profissionais. O estudo revelou que dos 80 cursos ativos, 50 disponibilizavam seu PPC em seus sites institucionais. Em 16 deles, Freire é mencionado, como epígrafe, base teórica didático-pedagógica, ementa ou bibliografia. Finaliza-se o estudo pontuando que Freire está presente nos PPC dos cursos da área da informação, porém de forma tímida. Sugere-se, assim, que devem ser realizados eventos, ações e cursos de extensão e aperfeiçoamento para profissionais e estudantes, considerando as contribuições teórico-práticas que o autor pode oferecer à Ciência da Informação.


Palavras-Chave: Ciência da Informação; educação; Paulo Freire; Projeto Pedagógico de Curso.


ABSTRACT


Paulo Freire is one of the most cited educators in the world, having worked in several countries and having his works translated into more than twenty languages. For the author, Education, as a political act, must be liberating, humanized and break down barriers between the oppressed and the oppressors. In this sense, the present work aims to analyze the Pedagogical Projects of Undergraduate Courses (PPC) in the area of Information (Archival Science, Librarianship, Information Science and

Museology) identifying possible approximations with Freire's thought. The study was based on the projects of the active and ongoing graduation courses (not all authorized courses are in operation), with a relation obtained from the e-MEC portal. Based on these data, a survey was carried out on the website of each institution, in order to obtain documents. Afterwards, the projects, syllabus and bibliographies were read and analyzed, verifying the presence (or not) of the author and the possible contributions of his study to the constitution of new professionals. The study revealed that of the 80 active courses, 50 provided their PPC on their institutional websites. In 16, Freire is mentioned, as an epigraph, didactic-pedagogical theoretical basis, syllabus, or bibliography. The study ends by pointing out that Freire is present in the PPC of the courses in the information area, but in a timid way. It is, therefore, suggested that events, actions and extension and improvement courses should be held for professionals and students, considering the theoretical and practical contributions that the author can offer to Information Science.


Keywords: Information Science; Education; Paulo Freire; Course Pedagogical Project.


RESUMEN


Paulo Freire es uno de los educadores más citados del mundo, habiendo trabajado en varios países y con sus obras traducidas a más de veinte idiomas. Para el autor, la Educación, como acto político, debe ser liberadora, humanizadora y derribadora de barreras entre oprimidos y opresores. En ese sentido, el presente trabajo tiene como objetivo analizar los Proyectos Pedagógicos de Cursos de Grado (PPC) en el área de la Información (Archivología, Biblioteconomía, Ciencias de la Información y Museología) identificando posibles aproximaciones con el pensamiento de Freire. El estudio se basó en los proyectos de los cursos de graduación activos y en curso (no todos los cursos autorizados están en funcionamiento), con relación obtenida del portal e-MEC. A partir de estos datos, se realizó una investigación en la página web de cada institución, con el fin de obtener documentos. Posteriormente, se leyeron y analizaron los proyectos, temarios y bibliografías, verificando la

presencia (o no) del autor y las posibles contribuciones de su estudio a la constitución de nuevos profesionales. El estudio reveló que, de los 80 cursos activos, 50 hicieron disponibles su PPC en sus sitios web institucionales. En 16 se menciona a Freire, como epígrafe, base teórica didáctico-pedagógica, temario o bibliografía. El estudio finaliza señalando que Freire está presente en los PPC de los cursos del área de información, pero de forma tímida. Por ello se sugiere la realización de eventos, acciones y cursos de extensión y perfeccionamiento para profesionales y estudiantes, considerando los aportes teóricos y prácticos que el autor puede ofrecer a las Ciencias de la Información.


Palabras clave: Ciencias de la Información; Educación; Paulo Freire; Curso Proyeto Pedagógico.


  1. INTRODUÇÃO


    O educador Paulo Freire (1921-1997), considerado o patrono da Educação brasileira, conforme a Lei n° 12.612 de 2012, é um dos estudiosos brasileiros mais lidos, publicados e traduzidos em diferentes países e idiomas. As suas contribuições ultrapassam as fronteiras do Brasil, não apenas pela sua atuação como professor e pesquisador em outros países, mas sobretudo, pelas reverberações que suas teorias, metodologias e práticas alcançaram em diferentes cenários e contextos.

    A Educação e as práticas educativas perpassam a educação formal (historicamente construída na e para a escola), a educação não formal (em outros espaços sociais para além da escola) e a educação informal (realizada em família e comunidade). Para Freire (2017) essas três práticas educativas podem ser ‘bancária’ ou ‘libertadora’, enquanto a primeira torna/mantém as pessoas alienadas e oprimidas, a segunda objetiva a conscientização enquanto ser humano crítico e autônomo.

    Apesar de Freire ser referenciado em publicações na Ciência da Informação (como se apresenta na próxima seção do texto) a busca pela presença do autor na área na Base de Dados Referenciais de Artigos de Periódicos em Ciência da Informação (BRAPCI), mostrou resultados incipientes em quantidade e nos aprofundamentos, ao menos nas publicações encontradas. Desta forma, entende-se que a Revista Brasileira de Educação em Ciência da Informação (REBECIN) está com esse dossiê proporcionando um legado à comunidade científica e profissional da área ao ofertar a discussão a respeito das contribuições freirianas para a Educação em Ciência da Informação.

    Com o intuito de contribuir para as discussões do presente número especial é que este artigo tem por objetivo analisar os Projetos Pedagógicos dos Cursos (PPC) de graduação da área da Informação (Arquivologia, Biblioteconomia, Ciência da Informação e Museologia) buscando identificar as possíveis aproximações com o pensamento freiriano. Ao investigar os PPC pode-se observar a presença ou não de Freire na concepção dos projetos e na oferta de disciplinas a partir de suas ementas e bibliografias, que auxiliam a compreender os perfis de egressos que os cursos desejam a partir do percurso formativo.

    Entende-se que os PPC não são a única forma de investigar as aproximações curriculares e formativas dos futuros bacharéis (e bacharelas) ou licenciados (e licenciadas), mas este estudo oferta um feixe de análise, que poderá/deverá ser complementado por outras pesquisas que possam compor este dossiê da REBECIN ou elaboradas a partir dele. A presença do pensamento freiriano pode(ria) estar presente nos cursos a partir das aulas, eventos e práticas ofertadas, bem como por meio de artigos e das teses e dissertações elaboradas por pesquisadores

    em programas de pós-graduação (PPG) em Ciência da Informação ou em outras áreas as quais os profissionais também se vinculem.

    Este artigo está estruturado em: introdução; apresentação da trajetória de Paulo Freire e breve revisão sobre sua presença na Ciência da Informação; o ensino de graduação na área e os PPC enquanto base formativa; os procedimentos metodológicos que nortearam o percurso do estudo; os resultados e discussões, apresentando a presença ou não do pensamento freiriano nos projetos da área da Informação; e as considerações finais que fecham o trabalho.


  2. PAULO FREIRE: TRAJETÓRIA E PRESENÇA NA CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO


    O educador pernambucano Paulo Freire se graduou em Direito na década de 1940, mas foi como professor de Língua Portuguesa que buscou realização pessoal e profissional, lecionando primeiramente na Educação Básica. O foco na alfabetização de trabalhadores foi um dos seus grandes propósitos, em estudos e práticas que contribuíram para o desenvolvimento de um método de alfabetização, em especial de adultos. Os aprendizados deveriam ser por meio da realidade do educando, a partir de termos e vivências que fizesse sentido para si e seu grupo, estando-se no mundo para transformá-lo e se libertar. Enquanto seres inconclusos, os seres humanos buscam conhecer o mundo para conhecer a si próprios, por isso aprendem e ensinam na relação entre Educação e Cultura.

    A teoria pedagógica desenvolvida por Freire compreende a Educação como multifacetada e influenciada por diversos aspectos, sendo eles: ético, antropológico, epistemológico, social, histórico e

    cultural. A Educação como ato político para a liberdade precisa ressignificar as aprendizagens em torno de práticas educativas humanizadas e na perspectiva libertadora, desenvolvendo a consciência crítica e buscando a justiça e a inclusão social, rompendo as relações entre oprimidos e opressores.

    Por meio da Educação Popular, entendida como “[…] um movimento de trabalho político com as classes populares através da educação” (Brandão, 2006, p. 75), Freire tinha por objetivo constituir cidadãos críticos na busca pelo reconhecimento de seus direitos sociais e no “[...] empoderamento, organização e protagonismo dos trabalhadores do campo e da cidade, visando à transformação social” (Paludo, 2005, p. 2) por meio da Educação.

    Apesar de em um primeiro olhar poder-se relacionar o pensamento freiriano ao campo da educação formal e aos cursos de licenciatura e assim, à formação de professores, Freire é tido como autor de referência em diversas áreas, seja para estudos teóricos e/ou de campo, onde as práticas educativas se façam presente em diferentes âmbitos e agentes, como os bibliotecários.

    Na Ciência da Informação diversos estudos, como artigos, teses e dissertações, possuem ancoragem em Freire, seja em periódicos e PPGs as áreas ou em outras áreas as quais os pesquisadores sintam-se acolhidos e partícipes. A partir de mapeamento realizado na BRAPCI (em 2023) sobre as relações entre Ciência da Informação e Freire, destaca-se dois estudos: Silva e Freire (2013) realizaram uma aproximação da Ciência da Informação com a Educação, a partir de Freire e a obra Pedagogia do oprimido com a temática da socialização da informação, identificando possíveis contribuições; e, Santa Anna (2021) que investiga a docência em Biblioteconomia e os processos de ensino e de

    aprendizagem perpassando (ou não) pelas habilidades pedagógicas dos docentes da área, considerando os princípios educativos em Freire. Ambos estudos partem do autor para observarem diferentes aspectos da Educação em Ciência da Informação.

    Destaca-se que outros estudos, sem a pretensão de esgotar as possibilidades, se alicerçam no pensamento freiriano para problematizar práticas na área, tais como: Cavalcante (2018) que apresenta reflexões a partir de Freire e o conceito de competência em torno da aprendizagem colaborativa e das metodologias ativas; e, Sousa (2018) que discute o conceito de educação humanizadora, o relacionando com a leitura humanizada e terapêutica por meio da biblioterapia. Estes estudos se alicerçam em Freire para discutirem problemas em torno da informação e da prática profissional dos bibliotecários.


  3. O ENSINO DE GRADUAÇÃO NA ÁREA DA INFORMAÇÃO E SEUS PROJETOS PEDAGÓGICOS


    Entre os cursos da área da Informação, o primeiro a se instituir no Brasil foi a Biblioteconomia, com criação do projeto pela Biblioteca Nacional, no Rio de Janeiro, em 1911 e início das aulas em 1915, com abordagem da corrente francesa. O segundo curso surge em São Paulo, no Mackenzie College, com viés norte-americano (Castro, 2000). Já o curso de Biblioteconomia Licenciatura é criado pela UNIRIO em 1979, ficando ativo até 1991 e retoma suas atividades em 2009, sendo o único no Brasil.

    O Conselho Federal de Educação (CFE) aprovou em 1962 o currículo mínimo para os cursos de Biblioteconomia existentes no país. Com duração mínima de três anos, o currículo seguia o modelo norte-

    americano e possui dez disciplinas divididas entre conhecimentos técnicos e humanísticos. Em 1982, o CFE reformula o currículo no formato de bacharelado e com duração de quatro anos, estabelecendo também os conteúdos mínimos apontados para a formação de bacharéis.

    Na Arquivologia, o primeiro curso data de 1960, intitulado de ‘Curso Permanente de Arquivos’ e ofertado pelo Arquivo Nacional. Em 1974 é instituído pelo CFE o Currículo mínimo da área e em 1977, na Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), surge o segundo curso no país (Tanus; Araújo, 2013). No âmbito da Museologia, o primeiro curso entra em funcionamento em 1932, pelo Museu Histórico Nacional e se intitulava ‘Curso de Museus’, já a Universidade Federal da Bahia, cria em 1969, o primeiro curso superior da área, sendo também ano do primeiro Currículo mínimo estabelecido pelo CFE (Tanus, 2013).

    O desenvolvimento da pós-graduação em Ciência da Informação, apesar de não ser o foco deste texto, teve seu primeiro curso de stricto sensu criado na década de 1970, pelo atual Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT). Os PPGs na área contribuíram para o desenvolvimento dos cursos de graduação a partir do fomento à pesquisa e à formação de pesquisadores, muitos dos quais se tornaram docentes, contribuindo com a constituição de novos profissionais.

    No contexto da graduação, o curso de Ciência da Informação da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) foi criado em 2015 e é o único em atividade em 2023. Outros cursos de mesma nomenclatura existiram no país, como na Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas) e na Universidade Federal de Rondônia (UNIR), mas extinguiram-se ou alteram o nome para Biblioteconomia.

    Ao ater-se aos cursos de graduação é essencial considerar o seu PPC, que é o documento que apresenta cada curso, desde a sua concepção e corrente teórica a qual a instituição, o curso e os docentes se filiam, explicita a sua compreensão sobre Educação e o fazer pedagógico e formativo para novos profissionais, que a partir do ser e estar vinculado àquele curso se profissionalizarão na área escolhida. O PPC é a identidade daquele curso, naquela instituição, e para isto, precisa estar alinhado com o Projeto Pedagógico Institucional (PPI) e as Diretrizes Curriculares Nacionais (DCN) do Ministério da Educação (MEC).

    Além das concepções pedagógicas, os PPC também devem indicar, por exemplo: o processo científico da área; dados institucionais junto ao MEC; de funcionamento estrutural, acadêmico, administrativo e físico para oferta do curso; processos previstos para o ensinar e o aprender; corpo docente e técnico; perfil desejado e as competências requeridas para os egressos; oferta de disciplinas, estágios e trabalho final; além do currículo, importante elemento com a matriz curricular de oferta dos conteúdos constitutivos para a formação.

    A respeito do currículo, Moreira e Silva o consideram como artefato social e cultural, não sendo inocente ou neutro na sua concepção e sim “[…] está implicado em relações de poder, o currículo transmite visões sociais particulares e interessadas, o currículo produz identidades individuais e sociais particulares” (Moreira; Silva, 1994, p. 8). Portanto, a fundamentação e as orientações didático e pedagógica dos currículos contribuirão na oferta e desenvolvimento do curso, assim como tende a refletir no perfil dos egressos e atuações profissionais.

    O PPC é importante para o planejamento e desenvolvimento de um curso de nível superior, alicerçando a fundamentação didático- pedagógica e operacional, que pensem e executem a sua proposta,

    alinhando teoria e prática ao processo formativo. Além disso, os PPC são instrumentos avaliados pelo Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (SINAES), que realiza avaliação e reconhecimento (e renovação de reconhecimento) dos cursos.

    Diante dos elementos apresentados é que analisar os PPC dos cursos da área da Informação têm motivados diferentes estudos com focos variados, mas tendo em comum o propósito de contribuir com a constituição de novos profissionais, dos próprios cursos e do status científico da área. A curricularização da extensão, obrigatória aos cursos de graduação a partir de 2023 suscitou a necessidade de revisão dos PPC, o que pode ter motivado a baixo quantitativo de documentos encontrados nos sites institucionais, fator que influenciou os procedimentos metodológicos deste estudo.


  4. PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS


    O primeiro passo para a elaboração deste estudo surge muito antes da proposta de dossiê da REBECIN, que provocou a comunidade científica a pensar sobre as contribuições freirianas para a Educação em Ciência da Informação. Durante a trajetória formativa e profissional deste pesquisador/autor, Freire foi autor base para estudos e projetos, dessa forma, ao refletir sobre sua presença na e com a área da Informação, investigando que caminhos poderiam cooperar com o dossiê e a Ciência da Informação.1

    Considerando o exposto, entende-se como oportuno identificar a presença (ou não) e as contribuições do pensamento freiriano aos cursos


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    1Trecho escrito em primeira pessoa, como recurso metodológico escolhido, mas sem permitir identificação de autoria visando a avaliação às cegas por este periódico.

    de graduação da área da Ciência da Informação, por meio dos seus PPC. Para tanto, recorreu-se ao e-MEC, base de dados oficial do MEC e das Instituições de Ensino Superior (IES). A partir dos termos ‘Arquivologia’, ‘Biblioteconomia’, ‘Ciência da Informação’ e ‘Museologia’, buscou-se os cursos ativos (autorizados) e em atividade (em execução), já que tem todos os cursos autorizados estão ofertando turmas.

    Após compor planilha com esses dados, realizou-se visita ao site de cada instituição em busca das páginas dos cursos e em especial, de seus PPC. Reforça-se que muitas instituições não disponibilizam seus projetos de curso, assim como foram encontradas versões resumidas, apenas com os dados institucionais e matriz curricular, sem constar ementas e bibliografias, por exemplo. Uma possível causa para que os PPC não estejam disponíveis é a necessidade de atualização dos projetos visando a atender a demanda de curricularização da extensão, pelo Conselho Nacional de Educação, vinculado ao MEC.

    Em posse dos PPC disponibilizados, iniciou-se o exame das estruturas dos documentos, identificando as seções de apresentação e discussão didático-pedagógica para leitura atenta, analisando não apenas a presença de Freire, mas também de outros autores e concepções educacionais. No segundo momento, realizou-se a busca nos documentos digitais por “Freir”, sem o ‘e’ final, já que poderia ser encontrado ‘Freire’ ou ‘freiriano’, considerando como se denomina a sua corrente (‘pensamento freiriano’, com variação para ‘freireano’).

    O mapeamento dos PPC a partir de suas sustentações teóricas no campo da Educação, bem como na presença de Freire nas ementas e bibliografias das disciplinas permitiu a construção de planilhas e pasta com os dados e os projetos que foram utilizados na Análise Documental

    (May, 2004; Pinto Moreira, 1993) deste trabalho, cujos resultados e discussões estão na continuidade.

    Ao encerrar a seção é necessário reforçar que a pesquisa nos PPC não é unânime para que se possa garantir sobre a presença do pensamento freiriano ou não na Ciência da Informação, mas permite, a partir do recorte proposto, investigar as possíveis contribuições do autor à área e a constituição/formação, em nível de graduação, de novos arquivistas, bibliotecários, cientistas da informação e museólogos.


  5. RESULTADOS E DISCUSSÃO


    1. Arquivologia


      Conforme o e-MEC, 17 instituições mantêm cursos ativos em Arquivologia, sendo 16 presenciais e um na modalidade a distância. Do total, 10 instituições possuem o PPC de seu curso disponível em seu site oficial e sete não disponibilizam o documento. O Apêndice A apresenta os cursos e instituições, dentre outras informações.

      Dos 10 PPC analisados, oito não continham menção à Freire, desses, dois possuíam apenas as ementas: FURG e UFSC. Outros seis documentos constavam ementas e bibliografias: UFAM, UFES, UFPA, UFSM, Uniasselvi e UNIRIO. Há de se destacar que a presença de Freire não foi investigada apenas nas ementas e bibliografias, mas sim, em todo o projeto dos cursos, inclusive na sua proposta educacional e processos de ensino e aprendizagem, por exemplo, apesar de haver poucas menções nesse sentido, como veremos ao longo deste texto.

      Dos dois cursos com a presença de Freire, a disciplina ‘Métodos e técnicas de pesquisa’, ofertada pelo curso da UFMG, aborda técnicas e

      instrumentos para a pesquisa científica, indicando a obra ‘A Importância do Ato de Ler’ como bibliografia básica, apesar de em um primeiro olhar não ter relação direta com a temática proposta. A UNB, na disciplina ‘Arquivologia e Extensão’, indica a obra ‘Extensão ou comunicação?’ para discutir as contribuições da área através de programas e projetos sociais de cunho extensionista, além de propiciar a reflexão sobre a função social dos arquivos e a identidade do arquivista nessa seara.


    2. Biblioteconomia Bacharelado


      O curso de Biblioteconomia Bacharelado (o curso de Licenciatura será analisado na sequência) é o que mais possui instituições ofertando, sendo 45 ao total. Este dado foi levantado junto ao e-MEC, assim como dos demais cursos da área da informação aqui investigados. É importante frisar essa informação, pois, na plataforma encontrou-se instituições com autorização para a oferta do curso, mas que não consta dados em seus sites, assim como, consta cursos em desativação, ou seja, não ofertam mais turmas e por isso não foram contabilizados.

      Outro destaque a ser feito é quanto os cursos ofertados na modalidade de educação a distância por instituições públicas via Universidade Aberta do BRASIL (UAB). Os cursos foram criados por comissão formada pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES) e compartilham o mesmo PPC, portanto, foi considerado como apenas um, mesmo que ofertados por diferentes instituições. Três versões de PPC foram localizadas nos sites das instituições (2017, 2018 e 2022), que apesar de serem atualizações do original, foram analisados os três. O Apêndice B apresenta os cursos de Biblioteconomia ativos e em execução no país.

      Dos 45 cursos, 19 não possuem PPC disponibilizado nos sites institucionais. A falta de informações prejudica não investigações em torno dos projetos formativos na área, e também com que estudantes e interessados nos cursos possam o conhecer de forma aprofundada e autônoma, não apenas somente a matriz curricular, a concepção didático- pedagógica que embasa a estruturação dos cursos e o percurso formativo ofertado pelas instituições.

      Os cursos que possuem PPC disponíveis são 26 ao total, que após análise, observou-se que em 15 não havia menção ao pensamento freiriano e ainda que destes, em cinco PPC não consta ementas e bibliografias (UFPE, UNIRIO, Unochapecó, USP Ribeirão Preto e USP São Paulo); cinco PPC apresentam as ementas, mas não as bibliografias (FURG, UFMG, UFPB, UFR e UFSC); e, em cinco constam as ementas e as bibliografias (Clarentiano, UFCA, UNB, UNESP e Uniasselvi). Alguns documentos são sucinto e não apresentam informações importantes para que os cursos possam ser conhecidos, talvez apresentem nos sites a versão condensada.

      Analisou-se que as menções à Freire acontecem em sua maioria a partir das bibliografias em disciplinas, o que é prejudicado quando não há essas informações nos projetos, apesar de que, foram examinados os documentos no todo. Três cursos trazem Freire no início de seus PPC, o que pode indicar um alinhamento com seu pensamento: a UFSCAR apresenta uma citação na epígrafe inicial do documento sobre o processo educativo e o Clarentiano o menciona também na epígrafe uma citação que cita Freire, não sendo do autor diretamente, sobre a educação enquanto ferramenta de humanização. Já a UNIR refere-se a Freire ao abordar a educação continuada e a ecopedagogia, enquanto ação de Educação Ambiental e eixo interdisciplinar de formação.

      Onze cursos indicam Freire como bibliografia básica ou complementar de diferentes disciplinas, são eles: PUC-Campinas, UDESC, UFAL, UFC, UFES, UFG, UFPA, UFRN, UFSCAR, UNIR e o

      PPC do curso nacional via UAB.

      A PUC-Campinas alude à Freire em duas disciplinas, ‘Fundamentos educacionais do profissional bibliotecário’, que como o nome indica, relaciona o campo da Educação, em especial a biblioteca escolar, com a Biblioteconomia e ‘Infoeducação’, que estuda a construção autônoma de conhecimentos pelos seres humanos. As obras indicadas como complementares, respectivamente, foram: ‘Pedagogia da autonomia’ e ‘Ação cultural para a liberdade e outros escritos’.

      As políticas públicas em torno da Educação e da Informação são tema da disciplina ‘Informação em instituições de ensino e cultura’, ofertada pela UDESC. As relações entre biblioteca e bibliotecário escolar e a atuação em bibliotecas e arquivos públicos também são conteúdos da disciplina, que apresenta a obra ‘Pedagogia da autonomia’ como bibliografia complementar.

      Freire se faz presente em três disciplinas da UFAL. Em duas delas consta a obra ‘Ação cultural para a liberdade e outros escritos’ como bibliografia complementar, a saber: ‘Biblioteca e ação cultural’, que aborda conceitos de cultura e práticas de ação cultural em diferentes unidades informacionais e ‘Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana’, sem ementa. Em ‘Contação de história’, os usos e as práticas de incentivo à leitura em espaços formais e não formais de Educação são os temas protagonistas da disciplina, onde a obra ‘A importância do ato de ler’ é indicada como básica aos estudos.

      A leitura também é o destaque na única disciplina que aborda Freire

      na UFC, em ‘Teoria e prática da leitura’, que também indica o livro ‘A importância do ato de ler’ como bibliografia básica. Os temas centrais discutidos são os processos de leitura e as políticas públicas em torno da leitura, do livro, das bibliotecas e da formação de leitores.

      A UFES é recordista entre os cursos de Biblioteconomia em referenciar Freire como bibliografias em cinco disciplinas. Em ‘Fundamentos educacionais em Biblioteconomia’ duas obras são indicadas, ‘Pedagogia do oprimido’ como básica e ‘Pedagogia da autonomia’ como complementar aos estudos em torno da relação entre Educação e suas funções em unidades de informação, os processos de ensino e de aprendizagem, as competências em leitura e informação e as políticas públicas para bibliotecas, temas discutidos pela disciplina.

      A obra ‘A importância do ato de ler’ é indicada como complementar em duas disciplinas da UFES: ‘Ação cultural’, que trata dos conceitos e práticas em torno da cultura, assim como da mediação cultural por meio de seus contextos e agentes; e, ‘Tópicos em leitura’, que concentra as discussões em diferentes aspectos da leitura, como conceito e história, práticas e estratégias de leitura e a relação com os Direitos Humanos.

      Diferentes temas são discutidos nas disciplinas ‘Tópicos especiais em Biblioteconomia I e III’ da UFES, com indicação de leitura complementar também do livro ‘A importância do ato de ler’ em ambas. A I aborda a informação e a cidadania, o uso da informação em movimentos sociais e a elaboração de projetos sociais, além da história e cultura afro- brasileira; já a III aprofunda o tema da cidadania, o relacionando com a leitura e o fazer biblioteconômico para a cidadania.

      Freire é nomeado em duas disciplinas pela UFG, que circundam a Educação e ação cultural, temáticas também presentes em outros cursos. Em ‘Fundamentos da Educação’ são debatidos os processos e práticas

      pedagógicas, a estrutura dos sistemas de ensino, o projeto político pedagógico das escolas e o papel da biblioteca nesse contexto, com indicação das obras ‘Pedagogia do Oprimido’ e ‘Pedagogia da Autonomia’ como básicas. A disciplina ‘Teoria da Ação cultural’ objetiva o estudo da diversidade cultural brasileira, inclusive pelo viés da cultura afro-brasileira e indígena, a política cultural em torno das bibliotecas, assim como a preservação de bens culturais, com indicação do livro ‘Ação cultural para liberdade e outros escritos’ como bibliografia básica.

      A disciplina ‘Leitura e Competência informacional’, da UFPA, se propõe a discutir assuntos como: história da leitura, leitura como ato político para a cidadania, práticas de competência, redação de textos técnicos e administrativos e comunicação oral. Chama a atenção que Freire e a obra ‘A importância do ato de ler’ é uma das trinta bibliografias indicadas, diante da variedade de temas da disciplina.

      Freire é mencionado em duas disciplinas da UFRN, em ‘Extensão e Biblioteconomia’ a proposta é trabalhar a extensão universitária, propondo ações práticas. Já em ‘Bibliotecas públicas e comunitárias’ as questões para estudo são: fundamentos, conceitos e objetivos dessas duas tipologias de unidades de informação, conhecendo seus sistemas e políticas para gerenciamento dos espaços. As obras referenciadas são, respectivamente, ‘Extensão ou comunicação?’ (básica) e ‘Ação cultural para a liberdade’ (complementar).

      A leitura é tema de disciplina da UFSCAR a qual Freire se presentifica, compondo a bibliografia básica com o livro ‘A importância do ato de ler’. A disciplina ‘Leitura e Cultura’ objetiva discutir a história e práticas de leitura, bem como ações de mediação e constituição de leitores.

      Na UNIR, a obra indicada como bibliografia básica é ‘Ação cultural

      para a liberdade’ em disciplina que se aproxima dessa motivação: ‘Ação cultural em unidades de informação’. A intenção é o aprendizado do conceito de cultura e dos fundamentos e métodos para as práticas de ações culturais em diferentes tipologias de espaços informacionais.

      O último curso analisado é do projeto nacional de Biblioteconomia na modalidade a distância, ofertada por instituições públicas. A disciplina ‘Cultura e Memória social’ traz em sua ementa os temas como a história e os dispositivos culturais e o estudo da cultura afro-brasileira e indígena, a partir da bibliografia ‘Ação cultural para a liberdade’.


    3. Biblioteconomia Licenciatura


      No país temos um único curso de Biblioteconomia Licenciatura, da UNIRIO, criado em 1979 e com oferta até 1991, retomando as atividades em 2009. O curso tem objetivo a formação de licenciados para o ensino da Biblioteconomia no âmbito técnico profissional, conforme seu PPC. O Apêndice C apresenta os dados do curso.

      O projeto pedagógico do curso cita cinco vezes Freire, quatro vezes na sua estruturação e em uma ementa da disciplina. O Movimento Paulo Freire é trazido duas vezes ao abordar a História da Educação brasileira, em especial quando à Educação de Jovens e Adultos. Ainda na apresentação do curso, Freire é mencionado outras duas vezes, em citações indiretas, ao abordar o Laboratório de Tecnologias Intelectuais e o referencial teórico do referido projeto.

      Na disciplina ‘Educação e Cultura Popular’ Freire é mencionado como conteúdo, uma única vez desta forma entre todos os cursos analisados neste trabalho. Conforme parte da ementa da disciplina: “O segundo bloco aborda as obras de dois grandes pensadores da educação

      brasileira: Paulo Freire e Darcy Ribeiro, ambos preocupados com a interlocução mais orgânica entre cultura popular e educação.”, infelizmente no documento não consta as bibliografias, para que pudesse ser analisado por este estudo quais obras de Freire seriam indicadas.


    4. Ciência da Informação


      No âmbito dos cursos de graduação nomeados de Ciência da Informação, temos no país apenas um (em 2023), na UFSC, conforme Apêndice D. Outros cursos já tiveram essa denominação, como na PUC- Campinas e UNIR, mas realizaram alterações nos últimos anos.

      O Bacharelado em Ciência da Informação da UFSC possui PPC em seu site institucional e data de 2015, sem constar o nome dos docentes que o elaboraram. Não há menção à Freire no documento e como o PPC não apresenta as bibliografias das disciplinas, não foi possível verificar se alguma obra do autor é indicada. Ao examinar o projeto, observou-se que em nenhuma disciplina consta o termo ‘Educação’, nas ementas e conteúdos a serem estudados no curso.


    5. Museologia


      No Brasil, 16 instituições ofertam o curso de Museologia, sendo 14 na modalidade presencial e dois a distância. No site oficial de quatro instituições não foi possível localizar o PPC, mas 12 estavam disponíveis e foram analisados. O Apêndice D apresenta os cursos ativos no país e que foram mapeados por este estudo.

      Examinou-se que alguns cursos estão no mesmo departamento que Arquivologia e Biblioteconomia, como na UNB (Faculdade de Ciência da

      Informação), UFMG (Escola de Ciência da Informação) e UFRGS (Faculdade de Biblioteconomia e Comunicação), mas em outras instituições os cursos estão vinculados a outros departamentos, como na UFBA (Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas e não no Instituto de Ciência da Informação) e UFPA (Instituto de Ciências da Arte e não no Instituto de Ciências Sociais Aplicadas). Essa vinculação ou não dos cursos indica a aproximação dos cursos de Museologia e seus docentes com a Ciência da Informação e o diálogo mais próximo (ou não) com os cursos e docentes dos cursos de Arquivologia e Biblioteconomia de uma mesma instituição, podendo trazer reflexos para os processos de ensino e de aprendizagem, bem como as colaborações para projetos de pesquisa e extensão, além do ensino.

      Dos 12 cursos que possuem PPC disponíveis, em nove não há menção à Freire. Desses, nos projetos da UFSC e da UFRGS não consta ementas e bibliografias, já nos documentos da UFOP e da UFS consta apenas as ementas. Em cinco PPC consta ementa e bibliografias, mas não trazem Freire: Uniasselvi, UFBA, UFG, UFPA e UNB.

      Das três instituições que mencionam Freire, no PPC da UNIRIO há uma menção à Freire, apenas o citando na página 16, como aporte teórico de autores que contribuíram com a Museologia brasileira. Nos cursos da UNESPAR e da UFPEL há menção direta, no primeiro em disciplina e na seção sobre ensino e aprendizagem no curso e no segundo, referem ao autor em três disciplinas.

      O curso da UNESPAR é de 2018 e o PPC analisado é de 2021. Na seção sobre ensino e aprendizagem, o documento cita Freire ao abordar o diálogo e a rigorosidade metodológica como fundamento da matriz curricular, ‘viva’ e ‘no mesmo movimento da sociedade’, trazendo uma citação da obra ‘Pedagogia da autonomia’ ao pontuar que ensino e

      pesquisa são elementos imbricados. A disciplina ‘Introdução à Extensão Universitária’ indica como bibliografia básica a obra ‘Extensão ou comunicação’, propondo o estudo das relações de ensino, pesquisa e extensão no curso de Museologia.

      O curso da UFPEL é mais antigo, de 2006 e a versão de PPC analisada é de 2020. A disciplina ‘Comunicação em Museus’ tem como bibliografia básica a obra ‘Extensão ou comunicação’ e aborda temas como a simbologia em museus, seus públicos e acessibilidade. Já a obra ‘Pedagogia da autonomia’ é básica para as disciplinas ‘Ação Cultural e Educação em Museus I e II’, sendo a primeira de caráter teórico e a segunda prático, visando o estudo de ações educativas em museus, como por via da Educação patrimonial.


    6. A presença de Freire nos projetos pedagógicos dos cursos


      De forma explícita, Freire aparece nos PPC dos cursos da área da Informação aqui analisados poucas vezes. Apenas o PPC do curso de Museologia da UNESPAR traz o autor ao refletir a flexibilidade do currículo e o diálogo como importante elemento da relação estudante- docente e o conhecimento.

      Enquanto elemento auxiliar, Freire se presentifica no projeto curso de Biblioteconomia Licenciatura da UNIRIO ao discutir a Educação brasileira. Já no Bacharelado está presente no projeto da UFSCAR, em epígrafe, assim como no projeto do Clarentiano. Entende-se que o autor poderia servir de base para as discussões em torno dos processos de ensino e de aprendizagem ou de uma Educação humanizadora e transformadora pensando nas propostas dos cursos e no perfil dos egressos, apenas para citar dois exemplos, mas isto não acontece nos

      PPC dos cursos analisados.

      Outros autores do campo da Educação são mencionados em alguns projetos, nas seções didático-pedagógicas: na Arquivologia Edgar Morin e Ilza Martins Sant’Anna (UFPA) e Jacques Delors (UFSC); Mirian de Albuquerque Aquino (UFPB) e Edgar Morin e Jacques Delors (ambos citados nos PPC da UFSCAR e da UNIR), na Biblioteconomia Bacharelado; e, John Dewey (UNIRIO), na Biblioteconomia Licenciatura. Todos os casos os citam sem aprofundamento, o que permite a dúvida sobre os posicionamentos didático-pedagógicos, as correntes e as abordagens educacionais que se filiam as instituições, os cursos e seus docentes, diante da proposta de constituição de novos profissionais no

      contexto brasileiro.

      Em relação aos conteúdos das ementas, Freire é mencionado apenas uma única vez, na disciplina ‘Educação e Cultura Popular, do curso de Licenciatura da UNIRIO. A disciplina é vinculada ao Departamento de Fundamentos da Educação da instituição e assim, acredita-se que seja ofertada por docentes com formação no campo da Educação.

      Diferentes tópicos e conceitos puderam ser observados depois da depuração dos dados a partir de planilha com as ementas. Estes temas demarcam como e por quais eixos o pensamento freiriano adentra os cursos da área e a formação de futuros profissionais. Os principais assuntos que emergiram são: Ação cultural em unidades de informação; incentivo à leitura, formação de leitores e competências em leitura e informação; relação em Educação e Biblioteconomia/bibliotecas, em especial as escolares; uso da informação enquanto poder e estratégia para a cidadania; políticas públicas educacionais e culturais; extensão universitária; e, Educação das Relações Étnico-Raciais.

      A Figura 1 contribui com maior detalhamento dos tópicos abordados nas 26 disciplinas que mencionam Freire, a partir de suas ementas, distribuídas em 16 cursos (de 50 analisados, entre 80 cursos ativos):


      Figura 1 – Temáticas abordas por cursos da área da Informação

      image

      Fonte: Elaborado pelo autor (2023).


      Aliado às 26 disciplinas que dialogam com o pensamento freiriano, cinco obras foram indicadas 27 vezes (uma disciplina o aborda na ementa, mas não apresenta bibliografias e duas disciplinas recomendam duas obras do autor). Os títulos que constam como bibliografia básica e/ou complementar são: ‘A importância do ato de ler: em três artigos que se complementam’ (indicada nove vezes), ‘Ação cultural para a liberdade e outros escritos’ e ‘Pedagogia da Autonomia: saberes necessários à prática educativa’ (seis vezes cada); ‘Extensão ou comunicação?’ (quatro vezes) e ‘Pedagogia do Oprimido’ (duas vezes).

      Pode-se dizer estas são as obras mais lidas e referenciadas do autor, mas que sua produção foi extensa, com cerca de 40 títulos, desde ‘Educação e atualidade brasileira’ (1959 – tese escrita para concurso na área de História e Filosofia da Educação, na Escola de Belas Artes de Pernambuco), passando por outras obras como ‘Alfabetização e conscientização’, ‘Educação como prática da liberdade’, ‘Educação e mudanças’, ‘Cartas a Cristina’ e as Pedagogias do ‘Oprimido’, da ‘Autonomia’, da ‘Esperança’ e da ‘Indignação’.


  6. CONSIDERAÇÕES FINAIS


Como resultado deste estudo, constatou-se que apenas duas disciplinas no conjunto dos PPC dos cursos de Arquivologia no país o referenciam Freire, um pouco mais distante na primeira e de forma mais explícita na segunda, ao discutir a extensão universitária na área, considerando que são 17 cursos no país, sendo 10 PPC analisados. Índice também considerado baixo ao se examina os dados referentes aos cursos de Biblioteconomia Bacharelado, onde dos 45 cursos, apenas 26 PPC puderam ser analisados e em 10 havia menção à Freire, distribuído em 19 disciplinas. Em relação ao curso de Biblioteconomia Licenciatura, temos um curso no Brasil, cujo projeto estava disponível e ao ser examinado, encontrou-se uma disciplina que cita Freire diretamente, vinculada ao Departamento de Educação.

A Ciência da Informação que é forte no âmbito da pós-graduação possui apenas um curso de graduação no país, cujo PPC pôde ser analisado e nenhum resultado encontrado, ou seja, não há menção ao pensamento freiriano. Já os cursos de Museologia são 16, destes 12 tiveram seus projetos analisados e resultou em dois cursos que

mencionam o autor, em quatro disciplinas no total.

Entende-se que o baixo quantitativo da presencialidade de Freire nos cursos possa se dar pelo posicionamento pedagógico (ou a falta dele) seguido pelos colegiados dos cursos de graduação na área e/ou falta de aprofundamento/conhecimento de Freire, por isso não o utilizam na elaboração dos PPC e não os indicam como bibliografias básica ou complementar de disciplinas. Isso não quer dizer, que Freire e seus pensamentos não circundem os cursos e as trajetórias formativas de outras formas, como eventos, grupos de pesquisas ou mesmo discussões em sala de aula, apesar de não constar nos projetos pedagógicos.

Outro fator que pode contribuir para os dados apresentados neste texto é a formação em nível de bacharelado de parte dos docentes da área, com diferentes formações em nível de pós-graduação (como em Ciência da Informação) que não tangenciam ou tangenciaram o campo da Educação, mas proporcionam a interdisciplinaridade que fortalece a Arquivologia, a Biblioteconomia, a Ciência da Informação e a Museologia. Os PPC também são importantes para embasar o trabalho dos docentes, inclusive de outros departamentos que ofertem disciplinas nos cursos da área da Informação, pois os documentos explicitam os pontos de vista, a forma de trabalho naquele curso em específico e o que se espera dos egressos, podendo assim moldar seus conteúdos para àquele público. Os projetos de curso também contribuem para que estudantes e interessados conheçam o curso, o que também motiva para que sejam disponibilizados nos sites institucionais, contratempo encontrado neste

estudo para maior aprofundamento da proposta.

Reforça-se que este estudo não objetivou apontar o que seria ‘certo’ ou ‘errado’ ao se construir um PPC, pois diversos elementos devem ser observados, como a fundamentação educacional adotada pela instituição

e o colegiado do curso, suas próprias experiências acadêmicas e correntes teóricas que se filiam, além do perfil de egressos que se deseja constituir. Nesse sentido, tinha-se conjectura que, por exemplo, as disciplinas em torno da leitura poderiam referenciar Freire, já que é uma de suas grandes contribuições ao campo da Educação, o que acontece em sete dos 19 currículos de Biblioteconomia Bacharelado analisados.

Ao finalizar este trabalho, elenca-se algumas das motivações, sem pretensão de esgotá-las, que permitem refletir sobre a presença de Freire no campo da Ciência da Informação:

Este estudo revelou que Freire, apesar de presente, mesmo que de forma tímida, em diversos cursos de Arquivologia, Biblioteconomia (Bacharelado e Licenciatura), Ciência da Informação e Museologia, pode e deve ser melhor conhecido, lido, estudado e debatido, seja em cursos formais como graduação ou pós-graduação, mas também em eventos, ações e cursos de extensão/aperfeiçoamento visando a encontrar profissionais e estudantes. Que outros estudos se aliem e complementem a este para aprofundar o pensamento freiriano e as suas contribuições ao campo teórico e nas práticas na Ciência da Informação.


REFERÊNCIAS


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BRASIL. Lei 12.612, de 13 de abril de 2012. Declara o educador Paulo Freire Patrono da Educação Brasileira. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2012/lei/l12612.htm. Acesso em: 22 fev. 2023.


CASTRO, César Augusto. História da Biblioteconomia Brasileira. Brasília: Thesaurus, 2000.


CAVALCANTE, Lidia Eugenia. Competência, Aprendizagem colaborativa e Metodologias ativas no Ensino Superior. Folha de rosto: revista de Biblioteconomia e Ciência da Informação, Fortaleza, v. 4, n. 1, p. 57-65, jan./jun. 2018. Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/40541. Acesso em: 23 fev. 2023.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 64. ed. Rio de Janeiro: Paz & Terra, 2017.


MAY, Tim. Pesquisa social: questões, métodos e processos. Porto Alegre: Artmed, 2004.


MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu da. Sociologia e Teoria crítica do currículo: uma introdução. In: MOREIRA, Antonio Flávio; SILVA, Tomaz Tadeu da. Currículo, cultura e sociedade. São Paulo: Cortez, 1994.


PALUDO, Conceição. Educação popular e movimentos sociais. In: FORMAÇÃO PARA O CONTROLE SOCIAL DO SUS: materiais. Brasília, 2005.


PINTO MOLINA, M. Análisis documental: fundamentos y procedimientos. Madrid; EUDEMA, 1993.


SANTA ANNA, Jorge. Princípios educacionais de Paulo Freire na docência universitária em Biblioteconomia. REBECIN, São, Paulo, v. 8,

p. 01-34, 2021. Disponível em:

https://brapci.inf.br/index.php/res/v/170104. Acesso em: 23 fev. 2023.


SILVA, Márcio Felipe Albuquerque Prazim da; FREIRE, Gustavo Henrique de Araújo. Socialização da informação: possíveis contribuições de Paulo Freire à Ciência da Informação. Revista Pesquisa Brasileira em Ciência da Informação e Biblioteconomia, João Pessoa, v. 8, n. 2,

p. 23-31, 2013. Disponível em:

https://brapci.inf.br/index.php/res/v/25020. Acesso em: 23 fev. 2023.


SOUSA, Carla. Biblioterapia como recurso para a formação humana do bibliotecário. Revista ACB: Biblioteconomia em Santa Catarina, Florianópolis, v. 23, n. 3, p. 362-371, ago./nov., 2018. Disponível em:

https://brapci.inf.br/index.php/res/v/109176. Acesso em: 23 fev. 2023.


TANUS, Gabrielle Francinne de Souza Carvalho. A trajetória do ensino da Museologia no país. Museologia & Interdisciplinaridade, n. 2, v. 3,

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TANUS, Gabrielle Francinne de Souza Carvalho; ARAÚJO, Carlos Alberto Ávila. O ensino da arquivologia no Brasil: fases e influências. Encontros Bibli: revista eletrônica de Biblioteconomia e Ciência da Informação. Florianópolis, v. 18, n. 37, p. 83-102, maio/ago., 2013.

Disponível em: https://brapci.inf.br/index.php/res/v/32152. Acesso em: 02 mar. 2023.


APÊNDICE A - CURSOS DE ARQUIVOLOGIA


Instituição

Sigla

Presencial ou EaD

PCC no site

Ano do PPC

Centro Universitário Leonardo da Vinci

UNIASSELVI

EaD

Sim

2021

Universidade de Brasília

UNB

Presencial

Sim

2020

Universidade Estadual da Paraíba

UEPB

Presencial

Não

-

Universidade Estadual de Londrina

UEL

Presencial

Não

-

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

UNESP

Presencial

Não

-

Universidade Federal da Bahia

UFBA

Presencial

Não

-

Universidade Federal da Paraíba

UFPB

Presencial

Não

-

Universidade Federal de Minas Gerais

UFMG

Presencial

Sim

2019

Universidade Federal de Santa Catarina

UFSC

Presencial

Sim

2020

Universidade Federal de Santa Maria

UFSM

Presencial

Sim

2020

Universidade Federal do Amazonas

UFAM

Presencial

Sim

2019

Universidade Federal do Espírito Santo

UFES

Presencial

Sim

2017

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

UNIRIO

Presencial

Sim

[2013]

Universidade Federal do Pará

UFPA

Presencial

Sim

[2014]

Universidade Federal do Rio Grande

FURG

Presencial

Sim

2017

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRGS

Presencial

Não

-

Universidade Federal Fluminense

UFF

Presencial

Não

-

APÊNDICE B - CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA BACHARELADO


Instituição

Sigla

Presencial ou EaD

PCC no site

Ano do PPC

Centro Universitário Assunção

UNIFAI

Presencial

Não

-

Centro Universitário Cidade Verde

UniCV

EaD

Não

-

Centro Universitário Clarentiano

CLARENTIA NO

EaD

Sim

2017

Centro Universitário de Jaguariúna

UniFAJ

EaD

Não

-

Centro Universitário Faveni

UniFAVENI

EaD

Não

-

Centro Universitário Leonardo da Vinci

UNIASSELVI

EaD

Sim

2022

Centro Universitário UNIFATECIE

UNIFATECIE

EaD

Não

-

Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo

FESPSP

Presencial

Não

-

Fundação Universidade do Estado de Santa Catarina

UDESC

Presencial

Sim

2017

Fundação Universidade Federal de Rondônia

UNIR

Presencial

Sim

2018

Pontifícia Universidade Católica de Campinas

PUC- CAMPINAS

Presencial

Sim

2019

Universidade Aberta do Brasil

UAB

EaD

Sim

2017;

2018;

2022

Universidade Comunitária da Região de Chapecó

UNOCHAPE CÓ

EaD

Sim

2017

Universidade de Brasília

UNB

Presencial

Sim

2018

Universidade de Caxias do Sul

UCS

EaD

Não

-

Universidade de São Paulo – Ribeirão Preto

USP

Presencial

Sim

2021

Universidade de São Paulo – São Paulo

USP

Presencial

Sim

2023

Universidade Estadual de Londrina

UEL

Presencial

Não

-

Universidade Estadual do Piauí

UESPI

Presencial

Não

-

Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho

UNESP

Presencial

Sim

2020

Universidade Federal da Bahia

UFBA

Presencial

Não

-

Universidade Federal da Paraíba

UFPB

Presencial

Sim

2007

Universidade Federal de Alagoas

UFAL

Presencial

Sim

2019

Universidade Federal de Goiás

UFG

Presencial

Sim

2016

Universidade Federal de Minas Gerais

UFMG

Presencial

Sim

2008

Universidade Federal de Pernambuco

UFPE

Presencial

Sim

2018

Universidade Federal de Rondonópolis

UFR

Presencial

Sim

2018


Universidade Federal de Santa Catarina

UFSC

Presencial

Sim

2015

Universidade Federal de São Carlos

UFSCAR

Presencial

Sim

2014

Universidade Federal de Sergipe

UFS

Presencial

Não

-

Universidade Federal do Amazonas

UFAM

Presencial

Não

-

Universidade Federal do Cariri

UFCA

Presencial

Sim

2006

Universidade Federal do Ceará

UFC

Presencial

Sim

2020

Universidade Federal do Espírito Santo

UFES

Presencial

Sim

2006

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

UNIRIO

Presencial

Sim

2010

Universidade Federal do Maranhão

UFMA

Presencial

Não

-

Universidade Federal do Pará

UFPA

Presencial

Sim

2009

Universidade Federal do Rio de Janeiro

UFRJ

Presencial

Não

-

Universidade Federal do Rio Grande

FURG

Presencial

Sim

2021

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

UFRN

Presencial

Sim

2018

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRGS

Presencial

Não

-

Universidade Federal Fluminense

UFF

Presencial

Não

-

Universidade Metropolitana de Santos

UNIMES

EaD

Não

-

Universidade Salgado de Oliveira

UNIVERSO

EaD

Não

-

Universidade Santa Cecília

UNISANTA

EaD

Não

-


APÊNDICE C - CURSOS DE BIBLIOTECONOMIA LICENCIATURA


Instituição

Sigla

Presencial ou EaD

PCC no site

Ano do PPC

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

UNIRIO

Presencial

Sim

2009


APÊNDICE D - CURSOS DE MUSEOLOGIA


Instituição

Sigla

Presencial ou EaD

PCC no site

Ano do PPC

Centro Universitário Clarentiano

CLARENTIA

EaD

Não

-



NO




Centro Universitário Leonardo da Vinci

UNIASSELVI

EaD

Sim

2022

Universidade de Brasília

UNB

Presencial

Sim


Universidade Estadual do Paraná

UNESPAR

Presencial

Sim

2021

Universidade Federal da Bahia

UFBA

Presencial

Sim

2010

Universidade Federal de Goiás

UFG

Presencial

Sim

2014

Universidade Federal de Minas Gerais

UFMG

Presencial

Não

-

Universidade Federal de Ouro Preto

UFOP

Presencial

Sim

[2008]

Universidade Federal de Pelotas

UFPEL

Presencial

Sim

2020

Universidade Federal de Pernambuco

UFPE

Presencial

Não

-

Universidade Federal de Santa Catrina

UFSC

Presencial

Sim

2015

Universidade Federal de Sergipe

UFS

Presencial

Sim

-

Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro

UNIRIO

Presencial

Sim

2010

Universidade Federal do Pará

UFPA

Presencial

Sim

2011

Universidade Federal do Recôncavo da Bahia

UFRB

Presencial

Não

-

Universidade Federal do Rio Grande do Sul

UFRGS

Presencial

Sim

2019


APÊNDICE E - CURSOS DE CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO


Instituição

Sigla

Presencial ou EaD

PCC no site

Ano do PPC

Universidade Federal de Santa Catarina

UFSC

Presencial

Sim

2015